quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Perdida em um mundo de sonhos, onde o desejo e o dever me dilaceram, sinto a dor do tempo que passa e nada posso fazer.
Aquela velha casa... Aquela velha canção... Aquelas velhas palavras... Aqueles velhos olhos castanhos...
Você está tão perto de mim e, ao mesmo tempo, tão longe! Não posso suportar a distância intransponível das folhas brancas e frias de um papel morto, mas que possui tanta vida dentro de si.
Me sinto desprezada, me sinto rejeitada, mas... Quando penso e vejo a realidade, sei que não sabe de mim... Nunca soube e nunca saberá, pois é feito de papel, tinta e sonhos.
Por que diabos, então, insiste em ser tão real? Pelos deuses!
O cheiro de seus cabelos, que o vento insiste em trazer, é o cheio do deserto... Da areia que subia no dias secos de verão e sujava suas botas quando descia de sua bela montaria... Da brisa marinha, soprando meus cabelos à beira do mar... É o cheiro da pólvora, é o cheio do sangue.
Seus olhos, afiados como os de um falcão, me fitavam com avidez de um modo que, se fosse real, não o faria.
Isso dói. A realidade dói.
Eu serei uma eterna romântica, mesmo com todas as cicatrizes que este mundo real possa deixar em meu coração...
Pois dói... é muito triste sonhar assim; dói muito acreditar e não ter depois. Simplesmente dói. Mas não posso deixar isso de lado, assim como não posso esquecer de suas brincadeiras e de sua fala eloqüente, que me encantou desde o primeiro olhar, desde as primeiras linhas...
Agora, parada diante daquela velha casa, ouvindo a mesma velha canção e sentindo o mesmo velho aroma e areia, sal e pólvora, deixo que o vento brinque com as mechas de meus cabelos claros e leve para junto de você, onde quer que esteja, meus pensamentos infantis e cheios de fantasia.
Como se fosse uma mesura, ajeito meu chapéu para o céu noturno e parto, para onde não sei, talvez para meu o quarto... Talvez para algum saloon quaquer para beber e cantar as velhas canções tocadas no velho piano há tanto tempo...
Vivo em dois mundos, e minha mente é repartida.
Acho que estou preparada para viver neste mundo.
Mas estaria o mundo preparado para que eu viva nele?